terça-feira, agosto 16, 2005

O abandono do país rural, a crise latente e a indiferença do Governo

O abandono do país rural, a crise latente e a indiferença do Governo
1. A cada vez mais grave situação da seca e a enorme devastação provocada pelos fogos florestais, que não cessam de repetir-se, interpelam fortemente a consciência nacional e apelam à solidariedade dos portugueses – das instituições e dos cidadãos.
2. A acrescer aos dramas persistentes dessas situações, é particularmente chocante o clima de abundante indiferença com que o Portugal rural suporta, praticamente sozinho e esquecido, estes momentos de dificuldade, de aflição, de tragédia.
O Governo devia saber estar presente, em todos os momentos e a todas as horas, dando mostras contínuas de atenção, de prontidão e de solicitude e revelando capacidade na mobilização da solidariedade nacional, face a tamanha provação.
Mas o Governo não é capaz de o fazer porque ele próprio parece estar de férias e ter ido a banhos.
3. O Governo partilha da indiferença que devia ser o primeiro a combater. É o Governo que pilota o alheamento colectivo.
O Governo dá gravíssimos sinais de insensibilidade e de incompetência.
O Governo aparenta ter-se demitido e ter deixado Portugal “ao Deus dará”, especialmente as regiões mais desprotegidas do interior.
4. Não é apenas o primeiro-ministro que foi de férias em ausência prolongada.
É todo o Governo que está longe e noutro lugar, enquanto o país arde, a seca prossegue inclemente, a crise dos preços da energia progride, a economia recua, a incerteza e a debilidade orçamentais se agravam.
5. O abandono a que o Governo parece ter votado o país rural, com veraneante insensibilidade, é tanto mais indesculpável quanto muitas destas situações eram inteiramente previsíveis: a seca verifica-se desde há meses e o seu curso implacável é bem conhecido; as vagas sucessivas de fogos florestais eram antecipadas desde há muito como efeito provável da vulnerabilidade acrescida das nossas matas e florestas, resultante da seca e de previsões climatéricas de risco; a alta contínua para níveis “record” dos preços do petróleo está prevista de há muito nos mercados especializados; a crise económica – agravada por erradas políticas governamentais – também estava escrita na quebra acentuada das estimativas de crescimento; e a latente crise orçamental é uma velha conhecida.
O Governo devia, assim, estar preparado e mostrar-se continuamente presente e em pleno exercício de responsabilidades.
6. O CDS-PP reafirma a sua solidariedade a todos os atingidos, expressa novamente a sua homenagem aos bombeiros, curva-se diante da memória das vítimas mortais dos fogos e apela ao Governo para não tardar mais, nem faltar no apoio indispensável às regiões e populações mais afectadas.
O Governo deve ser capaz de mobilizar o país e a União Europeia diante da adversidade. Para isso, deve dar o exemplo e mostrar efectiva capacidade de liderança.
O Grupo Parlamentar do CDS-PP, através do seu presidente, vai repor o pedido de uma reunião extraordinária da Comissão Permanente na Assembleia da República para debater o grave estado do país e a ausência do Governo.